No Estado de Pernambuco, nordeste brasileiro, é comum vermos apresentações de Maracatus e a reprodução de suas imagens estamparem as cidades e o imaginário coletivo pernambucano; Principalmente de figuras como os Caboclos de Lança, esses guerreiros que protegem o cortejo do Maracatu com seu brilho, colorido, e com suas grandes cabeças enfeitadas de fita, fazendo sua dança com movimentos que jogam e aparam suas lanças de madeira, que tem geralmente 2m de comprimento. 

Essas são imagens vistas e revistas, retratos familiares que estampam de campanhas à cartões postais do Estado, e mesmo assim o desejo de fotografar o Maracatu não cessa. Mesmo que a popular imagem do caboclo de lança, ou em termos atuais uma imagem "viralizada", é ainda mais clichê entre os fotógrafos locais. Embora seja carioca, minha formação cultural é Pernambucana, onde moro há mais de 20 anos. 

Na cidade de Olinda, no bairro de Cidade Tabajara, acontece o Encontro Estadual dos Maracatus de Baque Solto e Baque Virado de Pernambuco; São dois dias de apresentações durante o carnaval na praça Ilumiara Zumbi, onde essas imagens da série MARACATU foram captadas.

Alguns fotógrafos brincam dizendo que, quando você vai fotografar um Maracatu, você pode ser batizado, ou seja, quando os caboclos de lança, fazendo seu cortejo e dançando com suas grandes lanças de madeira, jogando pra cima e aparando, girando e rodopiando, e você fica ali com a câmera na mão, meio hipnotizado querendo registrar tudo, e quando percebe, está de frente com o caboclo e a lança tá atravessando sua roupa; Pronto. Foi batizado. E nesse dia, eu fui.

Claro que o batismo no Maracatu é bem diferente disso, até porque existem diferenças entre o Maracatu de Nação ou de Baque Virado e o Maracatu Rural ou de Baque Solto. O de Nação tem batismo geralmente é atrelado à proteção e benção de algum Orixá, ou mais de um, mas como um grupo; E individualmente para novos participantes existem outras ações que não irei me aprofundar no momento. Já o Maracatu Rural tem outro sistemática, embora também tenha ligação com o espiritual e o sagrado, porém ligado à Jurema Sagrada, religião praticada pelo povos indígenas, conhecida como Panjelança e outros desdobramentos que se estendem. 

Como guerreiros defendendo o cortejo, vejo esse atravessamento também como uma limpeza, um toque para que essas pessoas que estão presentes naquele "terreiro", (já que o sagrado se apresenta, vejo esse terreiro como um lugar não-fixo dentro de uma geografia comum, mas um movimento nômade.) Então acredito que esse toque, seja tanto pra proteção do Maracatu naquele momento, de limpeza, de proteção também pra quem recebe, e talvez para que as imagens que forem feitas, sejam divulgadas com respeito, com discernimento, já que muitas vezes essas não retornam aos seus protagonistas.

Maracatu é brinquedo popular sagrado, e existe o ano inteiro, não só no carnaval.



Para ver a série completa: MARACATU




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